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segunda-feira, 25 de maio de 2009

EVANDRO TEIXEIRA E O JORNALISMO DE SUPERFÍCIE

Evandro Teixeira, um dos mais renomados fotojornalistas brasileiros esteve em Juazeiro. No Centro de Cultura João Gilberto, no dia 22 de maio, abriu a exposição de fotografias do Mural Galeria Euvaldo Macedo, com fotos do livro Canudos 100 anos. Ali o céu se move! Está em todos os lugares, e te olha, e dança por trás dos personagens!
Depois da abertura da exposição mostrou fotos de seu acervo e contou as histórias que as fotografias, por si só não contam. Talvez seja preciso lembrar que, especialmente no fotojornalismo, as fotos são registros que não devem contar tudo, e não contam. A maioria delas exige sempre que se explicite, por outras vias, a narrativa que lhe é inerente! Não se trata do deleite esttético da fotografia. Trata-se do que ela tem para contar. E esta narrativa não pode se desgrudar do próprio autor. O fotojornalismo trás essa marca do autor. Se alguma objetividade deve ser aí discutida, deve reconhecer que ela fala do sujeito também. De suas escolhas, de suas aventuras, do seu campo de guerra.
Parei nas fotos do enterro do poeta chileno Pablo Neruda. Evandro estava no Chile cobrindo os eventos do golpe militar liderado por Pinochet. Cobriu os massacres nas ruas e no Estádio Nacional. Registrou cenas da chacina! Fez fotos da janela da sede do governo, em cuja sala Salvador Allende tombou. E soube que Neruda estava muito mal. Foi ao hospital, encontrou apenas o corpo frio de Neruda sendo preparado para a urna funerária e para o enterro. Era o único fotográfo e decidiu a companhar tudo. A preparação, a transferencia do corpo para outro lugar, para escapar dos militares, o enterro... Quero considerar duas coisas aqui:
a) há fotos que, sem essa narrativa, se tornam fotos banais ou iguais a qualquer outra foto, como a foto de uma pessoa improvisando uma ponte para passar o riacho cheio. Seria uma foto qualquer, se sua narrativa não incluisse o fato de que aquela ponte estava sendo improvisada para permitir a passagem do corpo de Pablo Neruda. A foto é um testemunho a espera de outro, que a completa.
b) e se Evandro Teixeira, como fotojornalista, não soubesse quem era Pablo Neruda? Aqui a objetividade e a competência técnica do fotógrafo dependem de uma coisa chamada "repertório". Chamamos isso, ordinariamente, de "bagagem". Sem isso, ele não seria o único fotojornalista do mundo a ter feito tais fotos. E onde se ensina isso? Em que matéria "objetiva" e "prática" se ensina isso?
Todo jornalista jovem, quer chegar primeiro ao sucesso. Já quer estrear como âncora do Jornal Nacional. Na fotografia, já querem começar com uma premiação internacional. Esquecem dos percursos que todos os bons profisionais tiveram que trilhar, começando entregando cafezinho ou espanando o pó das prateleiras. Recebendo alguns nãos e persistindo! Assim se faz um bom profissional, em qualquer área. Com esforço, dedicação e menos nariz arrebitado!
O fetiche no jornalismo anda junto com o agravamento de sua sperficialidade. A objetividade do texto, o foco no espetacular, inibem a perspectiva mais plural dos contextos. Os grandes nomes não se fizeram em salas com ar condicionado! Mas, ao contrário, com trabalho árduo!
Trabalho árduo, aliás, foi o da comissão formada por Flávio Ciro e pelos seus alunos monitores e voluntários, com destaque para Cecílio e Silvana. Eles realizaram um dos mais importantes acontecimentos do jornalismo no Vale do São Francisco, que foi a vinda de Evandro Teixeira. Mas nem sequer a imprensa local, acotumada ao jornalismo de superfície, compareceu e cobriu o evento.
É uma pena!

A LOUCURA EM MOVIMENTO

Na manhã do último dia 19 de maio de 2009, no Auditório Clementino Coelho do Centro de Convenções de Petrolina, participei de um dos mais inisutados acontecimentos, entre os muitos para os quais sou chamado. "A LOUCURA EM MOVIMENTO" nomeou um evento comemorativo ao Dia Nacional de Luta Antimanicomial. Os debates da mesa para a qual fui convidado orientavam pelo mote "O que é loucura, afinal?".
Boa pergunta, pensei eu! E lá no autidório, todos tinham de louco, um pouco! Usuários dos CAPS, loucos varridos, alunos da UNIVASF, professores, médicos psiquiátricos, artistas, coordenadores de centros de apoio prsiquiátrico... A mesa, então, estava bem representada!

Antes da nossa mesa vi um vídeo de um usuário do CAPS em Minas Gerais, contando um música que dizia algo como: "alguma coisa está querendo sair de dentro de mim; será um caminhão carregado de cimento; ou será um sentimento...". Boa! A loucura é isso: alguma coisa querendo sair, crescendo dentro... Precisa sair!

Para mim que não sou da medidcina - e sei que há na medicina esta pretensão de ser o único campo em que se pode produzir o discurso legítimo sobre a loucura - acho que a discussão é boa! Acho ainda que a loucura é um tema múltidisciplinar. Aliás, a primeira coisa a considerar é o fator contextual da loucura. Basta que uma convenção ou uma conveniência qualquer seja ignorada para que se produza uma situação de loucura. O louco, neste caso (na política, nas relações sociais...) é aquele que coloca-se contra uma ordem estabelecida. Ou então é uma desordem fora do lugar - pois, certamente há um lugar onde se pode ser louco à vontade...
O louco, então, é o imprevisível, o portador da força indomável, uma temível materialidade. Por isso é preciso "educar", como primeiro ato de "cura". Foucault já temtizou quase à exaustão os viesses em que a loucura é epnas este dispêndio de desajuste a alguma regra estabelecida. Por isso é preciso mais que educar: é preciso reter, interditar, silenciar... Assim, fui eu o louco que com outros loucos pixamos a parede da Prefeitura, questionando o despotismo que ali reinava, na minha pequena cidade, tornada feudo. Assim fomos os loucos que saimos no carnaval de paletó, gravata e cueca; que recitamos em cima dos postes do calçadão, que ouvimos rock ("eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada..."), que pomos brincos nas orelhas, que tomamos banho pelados na ilha e usamos roupas um tanto fora de moda... Para nós estavam reservados os recursos da cadeia ou do manicômio, como procedimento normal.

É correto pensar que há, como no filme "As Loucuras do Rei Georege", uma situação de alteração orgânica, em que a pessoa já não controla duas próprias escolhas. Mas nem isso está ausente de motivações contextuais. A sociedade de agora, por exemplo, é uma formidável fábrica de ansiedades e depressões. Leiam a Caros Amigos, edição do mês de maio de 2009. Ali há uma entrevista com a psicanalista MARIA RITA KEHL, onde, falando de seu livro, analisa as conseqüências do ritmo frenético da vida contemporânea e aponta a depressão como sintoma social (leia trechos). Nunca vi uma geração tão facilmente depressiva! Nunca a palavra depressão se banalizou tanto. Em "O Vestígio e a Aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo", Jurandir Costa Freire analisa bem algumas situações, e entre elas, o hedonismo, o narcisismo, a doenças somáticas de todo tipo, as bulimias e aneroxias, e estultia, resultado das excitações cotidianas, das promessas não cumpridas, das autopunições em razão disso e da assunção da impotência e da autocomplacência. O resultado nunca é tranquilo! Como diz Gabriel, O Pensador, "Aquilo que o mundo me pede, não é o que o mundo me dá". Esta é a fábrica de loucura que não cessa! A felcidade tornou-se paradoxal, segundo estudos do francês Gilles Lipovetsky. O gozo sempre postergado, adiando, não cumprido - principalmente quando a promessa é sempre de um gozo excepcional e até extra-humano. Mas ele nunca vem! É sempre aquela normalidade pífia. Frustração que vira buraco sempre mais aprofundado, para ser enchido de tudo que é apetrecho material e sensorial: a vertigem do consumo, a aneomania, a velocidade, o êstase, a moda, o fetiche, a droga... Isso dá dinheiro! As indústria e sua publicidade não param de sacar desta conta e de aumentar o rombo! No fim das contas, são as pessoas que, sozinhas, têm que ser responsabilizadas pelo descontrole. São elas que pagam, em seus corpos, com seus corpos, essa conta. São elas as encarceradas, as interditadas, as mutiladas!

Mas a conversa versou sobre esperanças. Aquilo que quer sair, que precisa sair e como oportunizar a saída. Os monstros que devem ser exorcizados, não exigem tanto as drogas científicas destinadas a este fim, mas as oportunidades de desinterdição. É preciso destrancar o sujeito! A arte, as produções expressivas, o movimento, a dança, o riso, a minimização da solidão! Às vezes, isso é quase tudo o que uma pessoa precisa para voltar a si, recuperar o cuidado de si, tomar de volta o controle de suas escolhas.

Achei bacanas as conversas! Mas acho ainda que os governos deveriam criar mais oportunidades para as novas e velhas gerações, para acalentar nossas loucuras. As nossas cidades continuam feias, sujas, barulhentas e ivadidas por tudo que é porcaria. É preciso abrir outros destinos!

domingo, 17 de maio de 2009

D E S V E N T U R A

O poema não é esse
Mas outro não acontece
Não se insinua, não nasce
E se não nasce, não cresce
Não desenvolve ou floresce

Outro poema não veio
Pois paralisou no meio
Nas franjas do cerebelo
No pouco de zelo e medo
Entre ousadia e receio

Porque olhou de viés
E afundou cem mil pés
O amor que nem merece?

Mas não há nenhuma multa
Nenhum castigo se imputa
Sua desculpa é que não desce!

NADA

Pelos pêlos do camelo!
Meu amor carece zelo
Como ar para o nariz
A bola, a pipa e o cabelo

Meu José carece Mar
Para amar as profundezas
Do teu corpo de planeta

Meu corpo carece um copo
De nada para nadar!

L U T O ! ! !

Quando caio na luta
Ás vezes saio de luto
E mesmo de luto
Caio na luta
E luto!

domingo, 3 de maio de 2009

A LIBERDADE POSSIBILISTA

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Josemar da Silva Martins (Pinzoh)
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Mesa de bar é onde os papos mais inusitados se estabelecem! Algumas vezes é onde se dispõem aquelas convicções que sequer duram até o último instante da noite. Há sempre os que têm convicção de sobra e os que nada querem com a convicção. Há os que constóem uma imagem de si tentando demonstrar a clareza de suas escolhas, e os que preferem ancorar esta auto-imagem na imagem de abertura total. Em geral nem uma e nem outra são posições assim tão sustentáveis. A certa aultura da noite, estarão os sectários tentando desfazer alguma rigidez que se esconde no ecletismo dos relativistas. É só papo de mesa de bar! Mas, em compensação, é um bom exemplo de como produzimos a vida! Primeiro, a necessidade de ir ao bar! É como religião! No fundo todo mundo se fixa em alguma órbita. Alguns vão para a gnose, outros para o chá de auasca, outros para algum esoterismo oriental, outros vão para a Igreja Universal. E muitos outros vão para o Cais do Porto! Eu, entre estes!
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O mais interessante é quando a gente encontra gente muito nova querendo dar lição em gente mais vivida! Ultimamanete é isso: os meninos sempre acham que estão por cima da carne seca. Estão na crista da onda, na crista da novidade, surfando na "sociedade da infromação". De vez em quando até ficam tentando fazer com que a gente se sinta mais velho do que é. Meninos e meninas da geração saúde, que não fumam, que não bebem, que só se drogam de shoping e de moda enlatada, e que dão a entender que são muito abertos, descoladas e bonitinhas, podem até levar a gente a ficar lastimando não ter podido acompanhar melhor essa era da pegação! Ou então a gente fica tentando "agregar algum valor" à idade, pousando de quem viveu coisas sensacionais. O problema é que a certa altura do papo vem sempre uma frase do tipo "isso era no seu tempo". Que coisa horrível! Aí somos obrigados a reagir com algum "meu tempo é hoje!" Resta saber se esta geração descolada e expert em tudo, é mesmo sem preconceito, ou se tudo não passa de uma capa de exibição com verniz cafona, caretice que se esconde na maquiagem da cutis sedosa.
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O papo dessa vez era sobre liberdade, escolhas, educação de filhos, etc. Liberdade é uma dessas palavras que já não sabemos mais o que quer dizer. Os homens de negócio sabem que é preciso não haver barreiras às suas criativas formas de ganhar dinheiro e a isso chamam liberdade. A liberdade de expressão também anda por aí. Antigamente ela era um bordão na boca de uma geração silenciada pela repressão e pela grande mídia, coadunada com a repressão. Liberdade de expressão não era termo proferido pelas grandes comporações da imprensa. Pelo contrário: este era um discurso dos silenciados, dos pasquins clandestinos. Ultimamente a liberdade de expressão banalizou-se como discurso do grande conglomerado da imprensa nacional, justamente aquela que se especializou em distribuir baboseiras aos montes para imbecilização geral na nação! E qualquer proposta de questionamento disso aparece, perante o discurso dessas corporações, como sendo uma ameaça à liberdade de expressão! Em outra instância a liberdade de organização e de fé beira hoje a cartelização geral do mundo e a comercialização de Deus. A própria fé virou um bom negócio, com direito a publicidade e tudo!
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De fato, tudo virou uma questão de consumo. A indústria que dirige a promoção e a regulação do consumo (sim, por que é preciso administrá-lo, criar disposições...) tem a publicidade e a propaganda como os principais instrumentos de gestão da própria vida coletiva. E ai de quem ouse questionar a liberdade da publicidade, mesmo quando ela é explicitamente danosa e irresponsável. Nos tornamos ordas de consumidores atrás dos nossos "nichos" - palavra mais que apropriada e assimilada pelo próprio discurso do empreendedorismo. Nossa liberdade virou uma coisa estranha. Nós a temos cada vez mais, e cada vez mais somos mais prisioneiros. Construimos em nossas casas nossas prisões domésticas, aparelhadas com muros altos, grades, cadeados, microcâmeras e cercas elétricas. Temos medo de tudo, e os que podem só saem às ruas em carros com vidros blindados. Vivemos a era do medo e do pânico, muitas vezes distribuídos pela mídia de massa! Curiosa essa nossa liberdade!
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Mas, como estamos numa mesa de bar, sempre pode acontecer o inusitado. Desta vez uma garota bonita trouxe uma palavra nova. Nos disse que o mundo não é mais determinista, mas possibilista. Sonoridade nova! Coisa chique! Ora pois, mas então devem estar ensinando isso nas escolas, na Universidade! E talvez até a própria publicidade esteja se encarregando de generalizar tal novo conceito, tão importante à nossa vida contemporânea! Possibilismo! Grifo eu! E o que vem a ser isto? - pergunto. "Ah, é isso, é que hoje em dia você pode escolher, você pode decidir sobre sua vida, o que você quer ser; não tem mais esse negócio de imposição, de proibição. E você não é obrigado a gostar de uma coisa só, depende do momento..." Parece bom! Parece residir aí uma formidável imagem de abertura. Seria um devir deleuziano?
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Bom, minha curiosidade não pode esperar que a nova palavra fosse grafada nos dicionários, ou nos livros. Como um bom contemporâneo que afirma que "meu tempo é hoje", recorri ao copy & past que a internet e as novas tecnologias da informação e da comunicação (NTIC, chique!) me possibilitam. Fui ao meu amigo Google, escorreguei até a Wikipédia (ignorei suas pendengas) e achei: "Possibilismo foi uma tendência introduzida no movimento socialista europeu que aceitava o princípio do reformismo, considerando que se devia tentar obter apenas o que era possível, o que no seu entender não incluía uma revolução proletária. O conceito teve origem na França, no seio do movimento socialista defendido por Paul Brousse, Benoît Malon e outros. O surgimento do possibilismo e de uma facção que defendia a via reformista levou à cisão do Partido dos Trabalhadores da França em 1882".
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Ora, ora! Será que as Universidades estão ensinando direito? Será que a propaganda e os workshops que trabalham também com outras palavras chiques como inovação, flexibilidade, resiliência, etc., estão colocando a palavra possibilismo no lugar certo? Essa origem um tanto política do termo será que ainda interessa a alguém? Se mexer um pouco mais vai ver que o possibilismo aparecerá de namorico com o pós-estruturalismo francês, com o pós-modernismo, com o pós-utópico, o pós-crítico e o pós-tudo... e quiça não ande de braços dados com o neoliberalismo!
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Fucei um pouco mais e encontrei, também na Wikipédia, que o "possibilismo é uma escola do pensamento geográfico (Francês) que encara o ambiente natural (a Natureza) como um mero fornecedor de possibilidades para a modificação humana, não determinando a evolução das sociedades, sendo o homem o principal agente geográfico (...). O gênero de vida não é uma consequência inevitável das condições ambientais, mas de um acervo de técnicas, hábitos, usos e costumes, que lhe permitiram utilizar os recursos naturais disponíveis. Juro que já vi isso, especialmente nas teorias da cultura, nas definições de territorialidade, enfim! Mas há mais: o possibilismo surgiu nos finais do século XIX, em França, como reação ao determinismo ambiental propugnado pelas correntes geográficas alemães, tendo como principal proponente Paul Vidal de la Blache. Mesmo que admita alguma influência do meio [natural, digo eu] sobre o homem, essa escola afirma que, o homem, como ser racional, é elemento ativo, portanto tem condições de modificar o meio natural e adaptá-lo segundo suas necessidades".
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Bom! Mas aqui há ainda uma ressalva a fazer. Há também um francês, chamado Edgar Morin, que em um de seus "Métodos", o IV, vai afirmar que o meio não é só natural. O meio ambiente é social, noosférico! O homem é sim o seu pricipal agente transformador, mas isso inclui todo tipo de jogo. Inclui todo tipo de força e de farsa. Os dispositivos físicos e a camada de imaterialidade constituída de todo tipo de signo, de linguagem. A cultura, a tecnosfera, a política, o negócio, a publicidade, o narcotráfico e tudo o mais! Este meio interfere sim na constituição das condutas, especialmente porque somos levados a adotar sempre uma gramática de bando. É preciso levar em conta essa nossa tão antiga - e cada vez maior - disposição para o bando, essa espécie de "espírito de bando", de experiência de "manada", o "efeito manada". Um meio que possibilita (possibilismo) e o faz em geral operando também certas convocações e mesmo certas coerções. A própria Natureza não só possibilita, mas também veta. E ai de nós que não entendamos urgentemente os seus limites!
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Menina bonita essa que pronunciou "possibilismo". Mesmo! Resta saber se ela não será a mesma que pode expressar facilmente uma espécie de caretice "de bando", típica de uma geração que se mostra demasiadamente eclética, mas que, no fundo, esconde nesse ecletismo seus fechamentos e suas limitações para o julgamento! Uma geração facilmente disposta a julgar o feio, o fora de moda, o cafona, o nada a ver! Que até vive julgando os pais em relação a isso, reclamando das combinações de roupa das mães; muitos até se envergonham dos país, não querem ser vistos com eles... Uma geração que sofre com pouca coisa, que vive com depressão, que vive se achando fora do modelo - e é dai que vem a maior parte das doenças somáticas dessa geração! Ave Maria, nunca vi uma geração tão facilmente depressiva! Eu não entendo! E onde é que entra o tal possibilismo? Será que não é um termo que apenas faz frente a qualquer regra de responsabilidade que esta geração tenta a todo custo evitar? Quais são seus outros engajamentos, fora da moda, do consumo e das fantasias elatadas? Se ainda querem transfromar o mundo, em que direção será essa transformação? Será demasiado afirmar que esta mesma geração, que diz estar à nossa frente, é a mesma que não concebe a possibilidade de ter responsabilidades?
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Voltando à liberdade, esta todo mundo quer! Ninguém, por outro lado, quer lutar por ela e bancá-la. Liberdade virou uma coisa que os pais dão aos filhos logo muito cedo, como se fosse uma penca de chaves e a autorização para dormir em casa com o/a parceiro ocasional. Liberdade é isso? Liberdade virou sinônimo de plaquinha no quarto do filho "favor bater antes de entrar, respeite minha privacidade", quando é a própria privacidade dos pais que não existe mais, nem é levada em conta. Aliás, numa sociedade paranoicamente autovigiada, é a própria privacidade como condição da liberdade que foi-se para as cucuias. Tá assim de filhos repreendendo os país por alguma bobagem, enquanto os repreensores detestam ser repreendidos. Tá assim de pai que virou refém dos filhos apenas para parecer moderno! Aliás, há de tudo - e coforme o pensamento em voga, cada caso é um caso!
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Resta saber se essa idéia de "liberdade possibilista" não está ela própria retida no limite do "copy & paste". Eu mesmo copiei e colei informações sobre o possibilismo que constam na Wikipédia, com a ajuda do meu "amigo" Google. E podemos dar por concluído o aprofundamento sobre o conceito? Há outros exemplos, como aqueles que se situam no contexto da linguística, quando se trata de discutir reformas que implicam numa tensão entre língua e identidade nacional, como ocorre no seio do chamado nacionalismo galego, em que o possibilismo acaba sendo questionado e aproximado do mero liberalismo. Ora, então pode ser isto: uma palavra nova para dizer de um novo jeito aquilo que o liberalismo já selou. Ao que tudo indica, há muito mais a conhecer sobre o possibilismo!
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Em relação à liberdade, não se trata de apenas "jogar os dados" e de deixar a porta sempre aberta. Se assim fosse, por que estaríamos nos encarcerando tanto? O que eu sei é que toda a liberdade de que se fala ultimamente está de algum modo adequada às escolhas de consumo, já vampirizadas pelo dirigismo da publicidade. Além disso, como é que eu escolho algo que não está posto para escolha? - pois uma das coisas que a lógica de mercado faz é vetar o espaço para aquilo que não se presta a ser cosumido em grandes quantias. O grosso consumo e a audiência é que mandam! A imprensa e a própria política são escravas da audiência e do espírito de bando, e se encarregam de (re)produzir o efeito manada! Para onde uns vão, todos devem ir. A própria política e a imprensa trabalham para fortalecer esta idéia, para levá-la ao extremo, à exasperação. Então, me digam onde fica a liberdade e o possibilismo nisso!
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Se em boa medida os dados já foram jogados, é preciso saber até onde essa palavra nova nos leva e o que ela se presta a esconder atrás de sua sonoridade charmosa e de sua promessa de novidade. Ainda bem que, com essa palavra ou apesar dela, há sempre a possibilidade de, lá pelas tantas, depois de vários goles, a gente mandar a seriedade ir passear, cuspir na cara das regras duras e se jogar no possibilismo! Mas se fosse só isso, por que teríamos que tolerar uma "lei seca"? Porque há também os sem noção, os exibicionistas, o individualismo, o narcisismo e o hedonismo! E é apenas para preservar o lugar de todos que certas coibições se justificam! Mas regra virou palavra feia demais, eca! Na abertura do ERECOM (encontro regional de estudantes de comunicação), que ocorreu no ano passado no DCH III/UNEB, quando um dos coordenadores da abertura disse que tinham que combinar algumas regras, o bando todo ensaiou uma vaia: "que porra de regra!". Ainda bem que houve a auto-gestão de regras. Mas regras houve!
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Fiquei pensando apenas o seguinte: e quanto a nós, os pais, ainda temos algum papel a cumprir? Não me parece que é isso que coisas como a Super Nanny, alguns episódios de novela, algumas reportagens e os novos discursos pedagógicos estão a dizer. Sinto mesmo que uma nova convocação para que os pais reassumam seu papel na educação dos filhos está ganhando vigor. E sobre o resto eu prefiro acreditar em Bárbara, minha filha, conforme o seu blog: http://blueknapsack.blogspot.com/. Ela deve saber mais do que eu sobre a sua própria geração.
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Mas é claro que, lá para as tantas, um papo como este já cansou a maior parte dos participantes - ou então já ficou animado demais e até pernicioso. Então vamos cair na bagaceira, pois como diz um outro jargão em voga no presente, "QUANTO PIOR, MELHOR". Pense numa sociedade doida! Mas não me cobre nada não viu, que eu estou na minha LIBERDADE... e a noite é uma criança (tomara que não seja mimada)!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

PAPO DA MADRUGADA

Josemar da Silva Martins (Pinzoh)
Véspera de feriado é assim. Mesmo que o tempo esteja de cara feia, e haja uma atmosfera murcha nos bares, a gente inventa um canto na casa de alguém pra esticar a noite. E lá pelas tantas, os mais sóbrios se arriscam em ir buscar mais alguma coisa pra beber em algum lugar sempre aberto na madrugada. Aí não vai um só: vai uma cambada inteira! E aproveita pra ouvir um som, pra puxar um papo e para dar outras voltas.
Ontem foi assim. E o papo foi daqueles. Falei de pessoas que nunca conhecem as músicas que a gente gosta, como se vivêssemos em mundos muito diferentes. Uma garota que pegou carona comigo peguntou se eu não tinha O Bonde do Tigrão. Eu falei que não! "E Gatinha Manhosa?" Também não. E "Saia Rodada?". Também não. E "Vitor e Léo?" Também não. "Vixe, você não tem nada disso? Você ouve o quê?" Ouço Djavan e Gil, e Céu e Ceumar e Pedro Luis e a Perede e Cidadão Instigado e Zeca Baleiro e Nilton Freitas e Alexandre Leão e Maviael Melo e Clã Brasil... "Djavan? Você tem Djavan? Eu adoro Djavan!" Tenho sim! "Tem Dia Frio?". Não! Tenho um disco chamado "Alumbramento". "Não, conheço não"... No meio da conversa a pessoa vê um disco de "Garotos de Programa" e seus olhos brilharam: "não acredito! Você tem Garoros de Programa? Bote aí!" E vai logo se enxerindo em colocar o tal disco que recebei num brinde de posto de gasolina, afff! E vai logo se atrevendo a aumentar o volume até... "Peraí! Calma! Eu não costumo nem ouvir este disco nem ouvir nada neste volume. Por favor!" Pois é!
Cris falou de uma pessoa que ele conhece que revelou num papo que não conhece, Caetano Veloso, nem Djavan, nem Tom Jobom, nem - imagine! - Gilberto Gil, nem - pior ainda! - Luiz Gonzaga!!! Porra! Mas, segundo informações do informante, é uma garota gostosíssima! Gosta de pagode, de "rala a tcheca no asfalto" e coisas do gênero! Ambas as situações narradas envolvem garotas em torno dos 20 ou 20 e pucos anos. Pensei comigo: a nossa Constituição Brasileira, a Constituição Cidadã, faz 21 anos neste ano de 2009. É da idade dessas garotas! E o papo foi andando!
Já ouvi alguns conservadores afirmarem que o problema do mundo é que hoje em dia "tem democracia demais". Às vezes acho que deveríamos simplesmente desprezar posições deste tipo. Às vezes acho que deveríamos considerar a possibilidade de posições deste tipo serem um índice de que essa saudade dos tempos de chumbo ainda pode criar problemas. Mas não me furto a pensar no paradoxo da nossa jovem democracia! Fico pensando, às vezes: as gerações que hoje têm em torno de 20 anos (idade de nossa constituição) são um retumbante exemplo da qualidade de nossa democracia! Será que nesses anos o apartheid cultural só fez de acirrar? Será que nossa sociedade da informação tem sofisticado os seus filtros para fazer com que existam mundos tão separados e paralelos que uma jovem de 21 anos, vivendo um centro urbano de relativa importância, cruzado de diversos meios de comunicação, não conheça alguns artistas que de fato são ícones da cultura musical brasileira? O que isso significa? Este é um tema banal e sem importãncia? Como é que isso marca a nossa jovem cidadania?
Os que me lêem podem pensar: "eita que o cara agora assumiu o seu próprio conservadorismo". Estam na era do relativismo absolutista (ou do absolutismo relativista, que deve dar no mesmo). Os mais "descolados" intelectualmente acham que "é isso mesmo". É o povo gerindo sua própria vida como bem entende e sem dar explicação a ninguém. Eu de cá penso: "santa inocência!" Eis aí um modo de a própria "indústria do abestalhamento" se autojustificar - e de se ocultar também. Então ficamos no seguinte ponto - porque afinal a noite segue seu ritmo e a cerveja está esquentando, e não podemos nos dar esse luxo de desperdício: a questão é saber se essa aparente "livre escolha" tem produzido um mundo melhor. Temos sido mais responsáveis, mais comprometidos com problemas coletivos, mais preocupados com o futuro nosso e do planeta. Tenho muitas pistas para afirmar que não. Tenho muitas razões para pensar que JAMAIS deveríamos desejar voltar à situação anterior, da Ditadura! Mas tenho as mesmas razões para pensar que, se não quisermos voltar àquilo (e ainda viver na ilusão de que somos mais livres, o que é perfeitamente possível), deveríamos tantar fazser a nossa democracia sair da adolescência - afinal ela já vai fazer 21 anos.
Sair da adolescência significa, não voltar a proibir, mas distribuir de modo mais igual as condições de participação, a educação, a cultura, ainformação. Uma sociedade que se nomeia de "sociedade da informação" não pode simplesmente deixar a socialização das novas gerações ao encargo do orkut, do MSN, dos porta-malas dos automóveis ou da sanha privatista que hoje abocanha as festas populares e a praça pública.
Não há nenhum problema em uma jovem gostosíssima (segundo Cris) gostar de pagode e de ralar a tcheca no chão. Mas há problemas sim em ela não conhecer um dos mais importantes artistas brasileiros que, acima de tudo, foi também o mais significativo dos Ministros da Cultura Brasileira até mo momento, Gilberto Gil. É apenas este ponto! Exatamente este ponto porque ele coloca um desafio ao próprio Ministério da Cultura, que é o de ampliar as oportunidades culturais. Mas coloca também desafios à Comunicação (ainda bastante privada e privatista) e à Educação.
A Democracia Brasileira precisa sair de sua fase adolescente, marcadamente leberal e ingênua! O apartheid social no Brasil ainda é enorme.
Mas agora é hora de voltar e abrir mais uma cerveja, que já demoramos demais nessa conversinha!