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quinta-feira, 21 de junho de 2012

A PREVISÃO DO TEMPO


A previsão do tempo não sai da costa. Do litoral. Da capital. A previsão do tempo tem um quê de colonial. Disse que há previsão de chuva. Lá nele – pensei! Do fundo do coração. Aliás, do fundo do pâncreas, que é mais profundo e vive para equilibrar enzimas! Aprendi ontem, no Bem Estar. Lá nele!

Hoje tô com o ouvido apurado! Escuto esses sons das janelas balançando! Tudo balançando! Uma pancada aqui e outra ali. Janelas soltas. Querendo pular a janela e ir. Batem-se, se abatem e não conseguem voar. Janelas presas.

A mais veloz das janelas é a TV. É essa coisa disponível, ininterrupta, como uma cascata, ora com mais ora com menos torrente! E sempre com muita pressa. A gente vai lá e colhe. Apara aquilo e inunda a sala. Mas geralmente chove no molhado.

A previsão do tempo passou. Já esqueci. Eu mesmo vou avaliar se a chuva vem ao longe. Se vier agora é fina, sem estrondos, pedindo um pouco mais de pano sobre o corpo. Nem cheiro tem, forte, como aquela de outubro, novembro… ou quando der. Agora é só esse junho em maio. Correria de chuva aqui, nesse tempo, tem pouca chance. Porque aqui também chovisca aquela coisa fina que nem escorre. Coisa que nem faz descer riacho! Só serve para desembainhar casacos.

Mas na costa não. Na Zona da Mata, vez em quando, neste período vem uma avalanche. Os riozinhos espremidos pelas cidades caóticas, pelo caos urbano de todos os santos, pela pobreza sem eira nem beira na beira dos barrancos, espremida pela riqueza sem noção que é então maior pobreza… Os riozinhos rasgam o estreito, inundam as ruas, tombam para os escombros os patrimônios. Derrepente todos estão boiando, tentando alcançar alguma estaca para estancar o afogamento. Lá nele!

No sertão não! No sertão o couro encolhe, o queixo treme, e as pessoas aproveitam o propício para se aninharem umas nas outras. À noite – que de dia o sol racha! Há dias até em que é provável encontrar neblina nos baixados, de manhazinha. E esta terra torna-se seca e fria! E venta! Zombido nas soleiras, nos beirais! Pedaços de bagaço de tudo que é sujeira que nos dispomos a oferecer ao mundo – como nosso mais sincero e valioso depósito no comum – rodopiam, dançam, para constiruirem uma das principais iniquidades estéticas de nosso tempo.

Mas a previsão do tempo passa longe disso!

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